segunda-feira, janeiro 19, 2009

Grão Mestre da Maçonaria é Autocaravanista? Fica a dúvida...


Extracto da entrevista GAZETA DO CENJOR
ao Prof. Doutor Nandin de Carvalho,
Grão Mestre da Maçonaria Regular (1996/2001)

por Ana Madureira (foto cedida por JA Ferreira)


Pergunta:

Como adepto fervoroso do auto-caravanismo, é o contacto estreito com a natureza que o atrai?

Resposta:
Sou um produto urbano, mas não sou fundamentalista. Somos uma realidade cósmica e acredito na ideia da evolução e do eterno retorno, no regresso às origens. Hoje prezo muito mais o acordar com o chilrear de um pássaro ou o apreciar um pôr-do-sol. A constante identificação do indivíduo com o universo é de extrema importância, dá-nos um ritmo de vida mais real, que é o pulsar do universo. Quantas mais experiências de identificação com a natureza conseguirmos acumular, mais próximos de nós próprios estamos e mais preparados para enfrentar as contrariedades da vida. A natureza dá-nos a consciência que tudo é passageiro e ficamos mais abertos aos outros, como bons samaritanos.
Nota:
para os mais curiosos, aqui fica na integra o teor da entrevista:
Luís Nandim de Carvalho
“Não é preciso ir-se à missa para se ser católico”
Tecnicamente está adormecido mas, aos 61 anos, está mais acordado do que nunca quando se trata de defender os valores maçónicos. Embora afastado administrativamente, continua com projectos humanistas e diz ser maçon para a vida.
Gazeta do Cenjor - O que é que vai fazer ao seu avental de aprendiz?
Luís Nandim de Carvalho – Os maçons têm vários aventais. Os meus de aprendiz estão guardados. Tenho dois aventais de mestre emoldurados e quero fazer o mesmo com o de grão-mestre. Tenciono fazer um mini museu com todos eles.
Durante quanto tempo foi grão-mestre da Maçonaria?
Durante cinco anos, que era a duração do mandato na altura, entre 1996 e 2001. Neste momento, é apenas de dois anos renováveis.
Foi difícil despedir-se da Maçonaria?
Não, porque eu não disse adeus aos aspectos espirituais da Maçonaria, apenas à questão administrativa, estritamente profana, a que estava ligado. A minha situação na Maçonaria é a de adormecido.
O que quer dizer um maçon adormecido?
Para a Maçonaria, significa apenas adormecido -administrativamente. Há a dimensão espiritual e a administrativa e um mestre nunca deixa de ser maçon. É como a missa, não precisamos de ir para provar que somos católicos. Continuo a ser maçon, mantenho o mesmo código de ética e comportamento. Deixei é de ter um vínculo administrativo, ou seja, não pago quotas, a assiduidade às lojas regulares e à GL (Grande Loja) tornou-se irrelevante, e não posso votar.
Tratou-se de um impulso ou foi uma decisão ponderada?
Foi um processo natural. Saí porque deixei de fazer falta. Neste momento temos um grão-mestre eleito e temos 2 past GM’s (ex-grão-mestres). Eu sou apenas mais um. Não considerei que o meu contributo fosse indispensável. Não estou nas organizações de uma forma egoísta, mas sim para prestar a minha solidariedade.
Houve algum ponto de viragem que o levou a sair?
Estive na Maçonaria num período duro, o da fundação. Para começar do zero em Portugal foi preciso vencer muitas barreiras e fazer um grande esforço para obter a aceitação da sociedade civil. Houve um outro período difícil, já depois da minha eleição como grão-mestre. Foram tempos de revolta interior. Falo do caso da Moderna, quando um grupo tomou posições heréticas, tanto na Moderna como na Maçonaria. Lamentei que o ex grão-mestre Fernando Teixeira se tenha deixado seduzir pela versão da Casa do Sino. Foi aí que ganhei alguns cabelos brancos, mas nunca abandonei a Grande Loja nesses períodos.
Saiu zangado com a organização?
Não estou zangado. Deixei a organização em paz comigo e com os outros, porque não houve nenhuma divergência. Foi apenas o chegar ao termo de um caminho que percorri. Nesta altura, a estabilidade da GL dispensa que concentre os meus esforços aí quando, com mais utilidade para a própria, o posso fazer fora da organização.
Não deixou de se identificar com os valores defendidos pela Maçonaria…
Eu continuo o meu caminho maçónico pela via espiritual. A dada altura o caminho administrativo deixa de ter importância. Continuo perfeitamente ligado aos valores maçónicos, mas achei que seria mais à útil à Maçonaria, como movimento espiritual e de ideias, dar o meu contributo fora do espartilho da Grande Loja. Felizmente na vida profana há solicitações onde posso levar à pratica esses valores.
É mesmo verdade que política e religião são assuntos proibidos nas reuniões maçónicas?
É verdade, está escrito. Mas nem sempre o que está escrito se aplica. O juramento que fazemos de não faltar com a nossa palavra, sob a pena de termos a cabeça cortada, é um juramento no sentido figurado. A Maçonaria vive muito de símbolos, como expressão dos seus valores. Dizer que não se discute política ou religião é um símbolo, porque o valor mais alto é o espírito de fraternidade e de tolerância e, para que existam, há que haver uma paz activa, sem posições de antagonismo. A paz é o único caminho para o progresso espiritual numa dimensão universal.
Então é normal falarem sobre esses assuntos…
Além da política e da religião, também não discutimos futebol. São temas que despertam paixões e, por isso, sentimentos sectários e atávicos. Discutem-se apenas assuntos de carácter espiritual, que possam levar ao aperfeiçoamento do ser humano. Há uma preocupação em não discutir política partidária, nem posições religiosas. Adoptamos o ecumenismo e a tolerância política. O que não quer dizer que não exista troca de ideias, sem conotação partidária, sobre questões de humanismo, que podem ser transversais a essas temáticas.
Como tenciona continuar a trabalhar para o Grande Arquitecto do Universo?
Em tudo o que participo. Estou na organização dos Jogos da Integração e da Inclusão, uma comissão de pessoas de boa vontade, maçons e não maçons, que promove jogos para deficientes mentais e físicos. Promovemos a igualdade, já que os jogos são disputados entre pessoas com, e sem deficiências. Também sou presidente de uma associação sem fins lucrativos, o Instituto Pró União Europeia em Lisboa. Temos um projecto, com uma pequena comparticipação da Comissão Europeia, sobre a integração de imigrantes. Estes movimentos de ajuda resultam de alguns valores maçónicos.
As tertúlias esotéricas que promove no bar do Além, em Alenquer, vão continuar?Sim, as tertúlias do Bar do Além, que ajudei a fundar há sete anos, vão continuar. Fazem parte do meu contributo para o Grande Arquitecto do Universo.
Como adepto fervoroso do auto-caravanismo, é o contacto estreito com a natureza que o atrai?
Sou um produto urbano, mas não sou fundamentalista. Somos uma realidade cósmica e acredito na ideia da evolução e do eterno retorno, no regresso às origens. Hoje prezo muito mais o acordar com o chilrear de um pássaro, ou o apreciar um pôr-do-sol. A constante identificação do indivíduo com o universo é de extrema importância, dá-nos um ritmo de vida mais real, que é o pulsar do universo. Quantas mais experiências de identificação com a natureza conseguirmos acumular, mais próximos de nós próprios estamos e mais preparados para enfrentar as contrariedades da vida. A natureza dá-nos a consciência que tudo é passageiro e ficamos mais abertos aos outros, como bons samaritanos.
Quando é que se sente mais próximo de Deus?
Em frente ao mar. A sua imensidão apela à nossa própria essência, pela sucessão das ondas que se quebram mas não morrem, são logo seguidas por outras. Outra situação é na presença de Santuários, como Covadonga, Fátima, Lourdes ou Guadalupe. São locais normalmente em pontos altos, com panoramas abertos e onde há tradição histórica de pessoas que sofrem e que se elevam espiritualmente. Sinto essa carga, sinto que não estou sozinho, mas sim em comunhão com o universo.
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