Comboio a vapor no Douro
Sugestão de viagem do LifeCooler
Andar de comboio pode ser uma emoção, mesmo sem a velocidade do TGV. Da Régua a Tua, vai-se a velocidade de vapor. Reviver o tempo em que ainda existiam passageiros de terceira classe e carruagens com bancos de madeira. Devagar, bem devagarinho, ao ritmo de pouca terra, pouca terra.
Sábado, 15 horas, gare de Peso da Régua. A estação está numa azáfama pegada. Chegam comboios vindos do Pocinho ou partem com destino a Vila Real. Mas na plataforma da linha dois a distracção é outra. Centena e meia de pessoas amontoa-se com câmaras de filmar e máquinas fotográficas, concentrando-se junto da velha máquina a vapor 187, que vai expelindo um fumo preto da chaminé. O fumo é tão opaco que encobre o sol fazendo tanta sombra, como a copa de uma árvore. Os mais curiosos aproveitam para trocar impressões com o maquinista Carlos, que pacientemente explica como funciona o engenho. Gradualmente, as pessoas vão entrando no comboio, um pouco contrariadas, talvez por causa do intenso calor que se faz sentir. As carruagens são dos anos 30, quando ainda não havia ar condicionado. O chefe da estação faz soar o apito. São 15:30 e o comboio parte à tabela. Apesar de ter mais de meio século, parece tão sólido como um actual. A Régua começa a ficar para trás e as afortunadas janelas do lado direito revelam-nos uma paisagem deslumbrante. É o Douro.
À beira-rio. Alguns passageiros mais impacientes preferem fazer a viagem de pé junto ao corrimão da escada de entrada das carruagens. Olhando para o Douro, surge quase imediatamente a barragem da Régua. Uma obra de vulto que chama a atenção pelas comportas, que ajudam os barcos a vencer o desnível das águas. E justamente enquanto os turistas vão distraídos de janela aberta, abate-se a primeira surpresa. O comboio entra num túnel, sem avisar ninguém. O céu fica escuro e o ar bastante pesado, para não dizer irrespirável. As cinzas do carvão flutuam à nossa volta, impregnando-nos com um perfume característico. Felizmente tudo tem um fim, e é tão bom voltar a ver a luz do sol e respirar ar puro. Uns pouco quilómetros mais adiante, fazemos a primeira paragem na estação de Covelinhas. Na plataforma, o chefe de estação, trajado a rigor, de casaco azul escuro com botões dourados, chapéu e apito na boca dá sinal de via desimpedida, empunhando na mão a bandeirinha vermelha enrolada. Só que o comboio, ainda assim, imobiliza-se por dois minutos, o tempo suficiente para que alguns turistas mais ansiosos saltassem para a linha contrária para tirar fotografias. Perigoso? Nem por isso, sendo a linha do Douro de via única, no problem.
Rio acima a velha locomotiva faz sensação por onde passa. Serpenteando vagarosamente o rio ao longo do desfiladeiro, vai despertando o interesse dos marinheiros de água doce que acenam freneticamente para o comboio, enquanto os viajantes, sempre a postos, disparam clics com máquinas fotográficas. De repente mais uma surpresa. Entra em cena um mini rancho folclórico, que vai animando o comboio ao som da concertina, enquanto as meninas dançam. Um excesso. A paisagem natural é suficiente, e não é à procura de folclore que aqui se vem. O melhor é continuar de olhos postos nas janelas.
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