com a devida vénia do Diário de Noticias de 15 de Julho de 2007...
O inglês que trocou tudo por Portugal e uma autocaravana MÁRIO RUI FONSECA, Abrantes
O nómada do século XXI tem cara de inglês. Vive da reforma e com ela deslocou-se para o Médio Tejo - perto do sol, mas nem tanto do mar. A sua casa tem nome de automóvel: Peugeot Boxer 5ED. Comprido mas estreito, assenta sobre quatro rodas e, como qualquer doce lar, dispõe de casa de banho, duche, cozinha e ampla arrumação - 41 gavetas.
É numa dessas gavetas que Richard Branson Barratt , de 77 anos, guarda a sua "Bíblia" - o programa Windows XP base do arsenal informático que tanto o entretém e fascina. Para um homem na terceira idade, que vê e ouve mal, tem brancas de memória recente mas capaz de ir buscar uma data marcante, não deixa de surpreender o à-vontade nas novas tecnologias. Com energia solar abastece toda a casa. Com um telemóvel, liga-se ao mundo. E, no interior da sua Peugeot, estacionada no parque de campismo de Ortiga, Mação, nem o céu é o limite.
Barratt é "apanhado" por simulação de voo em helicóptero em computador, que pilota com destreza. E transportou virtualmente, de mão firme num joystick sofisticado, o repórter do DN a Lisboa, Bristol, Londres, Nova Iorque, antes de se perder no caminho para o Quebec.Vive na sua casa rolante na região há quatro anos: Ortiga, Mação, Brejo, Tramagal... Empreendedorismo não falta a um homem que já teve 49 profissões e que, depois de se divorciar, aos 50, vendeu o amor da sua vida - o Hotel High Trees, na sua Devonshire natal. Quando se reformou, fez-se à estrada e a viagem só acabou em Portugal.
"Diria que não sou um tipo convencional, gosto de fazer as coisas à minha maneira, como Sinatra". Se uma pessoa não gosta do que faz - diz, professoral - "está a perder o seu tempo".O primeiro contacto de Barratt com Portugal ocorreu em 1975 em pleno PREC). Viajou com a mulher e duas filhas para o Algarve e, como qualquer inglês, estava sedento de praia e sol. Regressou nos anos 80 com a sua primeira auto caravana. Depois da reforma continuou a vida no cantinho sudoeste da Europa: "pelo bom tempo", claro, mas também "pelo modo de vida português" a fazer-lhe lembrar uma Inglaterra que já não existe.
É em Ortiga (Mação) que agora vive, solitário, sob um céu estrelado. "Fora das rotas turísticas, sinto que aqui posso confiar em toda a gente", justifica. Bebendo o seu chá ou a água que vai buscar ao Brejo profundo, como um "rolling stone". "Acho que vou ficar cá para sempre", diz.
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