(cão vigilante do rebanho de cabras)
E de repente numa curva, a autocaravana estacou: A frente, entre Serpa e Brinches, um rebanho de cabras atravessava a estrada acolitado pelo pastor e pelos cães.
E mais adiante a cena repete-se com um rebanho de ovelhas.
Uma imagem entre outras que ficaram de dois dias, entre Natal e Fim do ano de 2011,numa ultima viagem de voltas e reviravoltas pelo Alentejo com partida do Ribatejo. Para recarregar baterias dum um ano maioritariamente “madastro”.
(Barragem de Serpa)
Tudo começou a 28/12 na 4F de manhã. “She and Me” e a semovente, novamente “back to the road, again”. A “meteo” aconselhava Sul e Sol, e menos km do que uma ida ao Algarve, donde…pretexto ideal para retornar a Pedrógão do Alentejo e arredores.
Eram as 10.30h quando o transbordo de malas se fez no Alenquer Camping, para despertar a bela adormecida da semovente, com a chave na ignição. Sempre pelas nacionais, o primeiro “stop” foi só em Montemor-o-Novo para comprar o Público. Sem trânsito pesado e sem pressas. A gozar a paisagem, a vida, o “relax”, comum dos objectivos em mente: Arraiolos, a Aldeia da Terra.
(caarvanismo e autocaravanismo- 2 bonecos da Aldeia)
Quem quer saber mais? Pois aqui fica a partilha do web: www.aldeiadaterra.pt de Tiago Cabeça, na estrada das Hortas, defronte de Arraiolos, muito premiado pelo seu projecto que esta em pleno desenvolvimento. Segundo se lê no “flyer” ´é a aldeia mais caricata de Portugal, composta por milhares de peças de olaria criativa e contemporânea que recriam ambientes alentejanos rurais e semi-urbanos. Temáticas mais para adultos com humor, embora as crianças possam ver despertados sentimentos pedagógicos na observação daqueles microcosmos. Se vale a pena? -Pelo acesso sim, pela oportunidade lúdica também, pelo preço ficam reticências, pois o bilhete normal custa 5 euros, os seniores pagam 3,50€ e as crianças 2€.
(Ruinas de São Cucufate)
A autocaravana tem espaço comedido para estacionar, se…não houver mais visitantes (havia só mais um, pai com duas crianças na altura). Ficaram fotos feitas de que já divulgamos no facebook em partilha com outros “amigos” da rede social. Resta saber o futuro desta iniciativa a que parece demasiado delimitado para o seu potencial de expansão.
Ora depois, (meia hora é mais do que suficiente) era tempo de afagar estômagos. Assim, pouco depois da Uma, estávamos a desembarcar no Bolas na Azaruja, bem estacionados no amplo parque que rodeia a praça de touros, cumprindo uma sugestão e recomendação do amigo Capitão Haddock destas lides!
Atendidos pelo patrão com a mulher na cozinha, e alguns clientes espalhados pelas mesas. Prato recomendado o do dia. - Ossos! Mesmo ossos que visto no prato do lado desvaneceram as duvidas…era uma sopa, ou ensopado de carne ossada, em caldo de grão com batata, nabo e mais ervas aromáticas. Uma dose a 9.50€ dava para os dois seniores, o que com as entradas, de queijo eco e azeitonas, o melão de sobremesa, aguas e café assomou menos que uma euro-azulinha. Conclusão recomenda-se pela limpeza, pelo acesso, pelos sabores e pelo apuro da cozinheira. Quem quiser lá ir e saber do menu do dia ou marcar mesa aqui fica o número 266977338.
Paragem seguinte na zona industrial de Azaruja para visitar a fábrica local de peças de cortiça em chapéus, vasos, cintos, malas e mais objectos decorativos. Interessante e os preços, de fábrica!
(frescos do tecto de São Cucufate)
A itinerância prosseguiu como delineado…mais para sul…para São Cucufate, quase ao lado de Vila de Frades, ancestral capital do concelho da Vidigueira de que foi donatário Vasco da Gama. Bom estacionamento, bom acesso e sinalização, recepcionistas simpáticas, bilhetes seniores com preço de IVA pré troika, ainda a 1,20€ com direito (ainda) a brochura gratuita. Conclusão: valeu a pena e recomenda-se. E fica uma foto emblemática que faz relembrar em menor escala as mansões de Conímbriga.
(portões abertos do Camping-Car Park de Pedrógão do Alentejo)
O dia estava a chegar ao fim. Mais uma vintena de KM, e chegamos ao Camping-car Park de Pedrógão ao km 38,5 da EM 258 (Estrada Vidigueira-Moura). Por do sol e portões fechados…mas com a chave do autocaravanista foi fácil! (que qualquer um AC pode adquirir) abriu-se o cadeado e os portões abriram-se de par em par, para escolhermos sozinhos, um dos lugares preferidos mesmo de frente para o nascente com a superfície da albufeira do Guadiana formada pela represa das águas da barragem de Pedrógão, em frente.
Pausa técnica antes de jantar. Para ver dissipar no horizonte a poente o halo róseo do sol submerso num horizonte de casario de Pedrógão entalado em montes redondos de chaparros, zambujeiros e azinheiras, que também iam imergindo na escuridão, com uma lua mentirosa minguada, mas em quarto crescente mal iluminava. A natureza no seu esplendor diário pacífico, despoluída de nuvens cinzentas, com uma aragem suave não ventosa, e com uma friagem própria dos tempos, não agressiva.
E depois a decisão, ate Pedrógão…mas de autocaravana, ainda se tentou a Azenha da Aldeia, mas a cozinheira estava doente, e nada para ninguém, e assim a paragem seguinte, no Charrua foi a escolhida. Lá estavam as duas Rosas a mãe e a filha, para nos aconselharem na janta. A opção certa era mesmo o prato do dia - carne de porco à alentejana. Sopa de legumes do panelão fumegante, águas etc…e nem digo o preço Digo? Pois tive que esmolar a minha consorte uma moeda para juntar a minha euro-rosinha…
Regresso calmo ao parque de autocaravanas e cumprir o dever de quem tem a chave do autocaravanista, ou seja fechar os portões e recolocar o cadeado na corrente. Depois espreitar a televisão (que tem bom sinal no local, mesmo sem levantar a antena), passar os olhos pela imprensa, fazer um percurso pedestre pelo perímetro vedado do parque, e depois confiramo-nos a Morfeu!
5F amanheceu com a neblina forte, cerrada e densa de nevoeiro vindo do rio, mais a fumaça enrolada do forno de carvão vegetal do Sr. Miguel, com um cheiro a azinho agradável. E às 8h com 8º graus de temperatura hora de alvorada, pequeno-almoço de torradas e café com leite mais os “smarties” dos comprimidos. Depois abrir o cadeado do portão, ida à padaria do Joao Engrola em Pedrógão, passagem pelo mercado e rumo a Orada e depois a Brinches na margem esquerda do Guadiana na procura de uma padaria tradicional, de que havia referência oral.
(Oleiro)
Frustração. Junto ao marcado (espaço amplo de estacionamento) há de facto uma pastelaria padaria, mas só com papos-secos e quanto a padarias há duas, mas têm um pacto fecham as duas 3F e 5F, e assim à data nenhuma estava aberta. Ainda demos uma volta pela igreja e o largo dos cafés, mas a solução só estava em Serpa…e onde? Pois no “Intermarché” que tem pão de duas padarias alentejanas.
Lá nos semovemos direitos a Serpa, direito ao “Intermarché”, fácil de localizar pois basta seguir a sinalização de camping sempre pela circular exterior. E lá comprámos o pão e mais isto, e daquilo. Mais voltas não eram necessárias, e por isso, rumo de regresso a Pedrógão pelo mesmo caminho, mas com passagem pela barragem de Serpa. Nova, elegante, de dimensão humana mas com única companhia de mais um estaleiro da EDIA. Mais umas fotos…
Votamos pois à estrada depois do curto desvio, e foi pouco adiante, logo a seguir a fantasmagórica estação de comboios desactivada, que topámos o primeiro rebanho trasumante. De cabras variegadas de cores, e com chibinhos aos saltos, á ilharga com um cão tipo Serra de Aires a controlar fugas e mais um canito expectante no meio da estrada a policiar o trânsito. O pastor, cajado pelo ar á cacetada nas pragas que não se percebiam, mas que revelavam preocupação com as bichezas. Bonito de se ver, genuíno espectáculo rural.
Pouco depois a cena repete-se, outro pastor, outros animais, ovelhas e borreguinhos, mais homogéneos de cor, com menos saltos mas a mesma aflição de se manterem agrupados, com os cães vigilantes e o pastor de atalaia ao cruzamento da estrada, sem movimento. Nós éramos os únicos estacionados numa imaginária passagem de nível, frente ao trilho dos peludos caprinos e ovinos em movimento. Valeu a pena pausa. E seguimos adiante.
Tínhamos fixado como objectivo seguinte, ir ate S.Pedro do Corval. E pelo GPS e pelos mapas havia duas hipóteses…ou por Marmelar e Alqueva povoação e depois, rasando a Marina da Amieira até Reguengos, ou por Moura, e depois pelo paredão da Barragem do Alqueva, seguindo então para Reguengos.
(mesa de pic-nic dos autocaravanistas do Alenquer Camping)
Em boa hora chegamos ao destino escolhido para almoçar. No restaurante O Aloendro na Estrada para Évora, nº 3B, com bons estacionamentos ao longo da EN. Sala ampla de tipo rústico com bom aspecto. Mesas amplas e com lugares vagos junto à janela. Abancamos e logo o funcionário que tem nome que merece ser fixado pela eficiência e cortesia (Sr. Paulo Grilo) trouxe duas iguarias: queijo de cabra fresco, azeitonas verdes novas retalhadas além do pão a contento. E que escolher? O prato do dia Sopa da panela! E dá para dois seniores uma dose? – pois até sobra, esclareceu o simpático Grilo falante…e de beber? - Pois também um jarrinho do da casa…que venha! E que foi tudo bem almoçado.
No final a sericaia com ameixa como é devido, para “She”, tendo o descafeinado sido a sobremesa para o “Me”, com mais um pedacito do queijo de cabra sobrante. E a conta. Pouco trepou da nota de euro-azulinha. Fica o número de telefone (266502109) para quem se interesse em fazer reserva de mesa.
Após almoço ida e volta a S. Pedro do Corval para dar uma vista de olhos nas olarias, que são de facto, porta sim, porta sim e onde sempre se acaba por comprar uma recordação, desta feita, um imã para a porta do frigorífico.
O regresso estava a ser desenhado para dormida da segunda noite desta escapadinha autocaravanista. Coruche? Samouco? Mora, junto ao fluviário? Ou mesmo na Companhia das lezírias no parque do Restaurante? No inverno, com os dias curtos, mas a crescer, She tem preferência, que eu subscrevo, por uma de três soluções: 1) em “campings”, 2) em “parkings” de AC nos centros urbanos, ou 3) onde quer que seja adequado com mais companhia.
(Plataforma de autocaravanas do Alenquer Camping)
Íamos ver pelo andamento. E desandamos desde logo para Évora, e aqui para uma paragem na Agriloja recentemente inaugurada na zona industrial mesmo por detrás do centro de inspecção de automóveis Controlauto. As mercas foram poucas mas eficientes, uma roseira de trepar, pesticida anti-caracol, e mais dois etc. Para quem tenha varanda, jardim, ou horta uma vista se passar por estas paragens é bem justificada, em preço, qualidade e variedade.
Ora então a partir de Évora ainda havia mais um objectivo a preencher, a visita das Grutas do Escoural. Sem problema com a “lady” do GPS a sussurrar o itinerário lá chegamos. Autocaravana bem estacionada no parque ao lado de viaturas de outros visitantes (ou caçadores?). Porém puro desengano! Portões fechados a corrente e cadeado (aqui nem a chave do autocaravanista entra) e no placard informativo a informação clara: Vistas só com marcação prévia.
(sopa da panela do Aloendro em Reguengos)
Ficou datada a hora do regresso desta viagem…rumo pois, não a Coruche, as referências colhidas são no sentido do local recentemente inaugurado ser afastado do centro urbano e isolado, mas ao Samouco. Chegados, já anoitecia com empenho, e o local afigurou-se ermo e até lúgubre. E a tasca frente ao mini ancoradouro, pouco motivadora. Por isso, sem hesitações seguiu-se à paragem seguinte Alcochete coma intenção de ficarmos a noite voltados para a frente iluminada da Expo. Porem na falta de dados GPS, não se encontrou o local desejado próximo da ponte embarcadouro.
(Moinho de Serpa)
E então? Pois então, naquele sitio e aquela hora, a solução apareceu como incontornável…seguir margem esquerda do Tejo acima, até à ponte de Vila Franca de Xira, jantar no Carregado e depois aportar e dormir na plataforma de autocaravanas do Alenquer Camping.
(Igreja de Serpa)
Assim se fez. Jantar então antes, na ponte da Couraça do Carregado no absurdo nome de Restaurante a Selva de Salsa, nas bombas da BP, cervejaria com balcão e mesas para “routiers” com menus de preço fixo ao almoço e jantar pelos 8€, tudo incluído. Da sopa ao café, com pão azeitonas, com vinho e prato principal. A escolha era variada, mas sem grande imaginação optou-se por dois menus de sopa de ervilhas e entrecosto de vitela. Esta devia ser alcunha de um touro reformado e nevrótico, pois dos dois pedaços de cada dose só um foi desafiar o dente. Abundante, mas…
(Igreja de Brinches)
Chegamos ao final com um saldo positivo de dois dias bem aproveitados. Total de cerca de 670Km,media a “olhómetro” de 11L/100,com preço de gasóleo a 1,309 nas bombas “low cost” do Pingo Doce de Alenquer. Total da factura pouco menos de 100 euros por dia, tudo incluído.
(Escoural...a visita as grutas só com marcação prévia)
(fumaça do carvão vegetal de azinho a sair do forno artesanal)
A noite em Alenquer ligados à electricidade da plataforma das AC permitiu a continuação das leituras da imprensa e a actualização das informações televisivas. E depois o sono. Sexta-feira, dia seguinte havia calendário a cumprir de regresso a pentes, sem porem antes fazer a toilette completa à semovente, com renovação de águas limpas e despejos de sujas. Há que deixar 2011 com vontade de em 2012 haver mais oportunidades de sortidas, de voltas e reviravoltas, pelo menos cá dentro, pelo menos no eixo do Ribatejo ao Alentejo. Que assim seja, porque se assim for, já não será nada mau.
E adeus 2011, que não deixa saudades, a não ser que o Dezembro de 2012 venha a corroborar o ditado…atrás de mim virá, quem de mim bom fará!
Mas assim não foi.
A 1 de Março de 2012 She foi vitimada por um cancro que a ceifou aos 61 anos de idade, deixando-me na memoria 38 anos de vida conjunta, 4 filhos e a ultima viagem autocaravanista, como co-piloto nos ultimos 10 anos de bem mais de 130.00 km, para além da partilha de inúmeros projectos, ideias, e sonhos, realizados e por cumprir.