Há dias assim.
Entramos neles, não por nosso impulso ou pulsão, mas antes a convite de quem foi intermediário feliz da força, da beleza e da energia da Natureza contida no Grande Arquiteto do Universo.
Estava escrito, e não foi por acaso que a 15 de Agosto de 2012, o ano de todos os males e de todos os fins, me meteria a ir e voltar no mesmo dia à ponte de Sagres, ao Cabo de São Vicente e á Ermida de Nª Sra de Guadalupe. Estava nos desígnios da Associação inspirada AIDANRIQUE (associação Infante Don Henrique) que eu aceitaria o convite recebido para ser um dos escolhidos, a poder vivenciar a vista guiada a ERMIDA de N SRA de AGUDALUPE e a tomar assento numa traineira que integrou a procissão marítima de N Sra da GRAÇA Ao Cabo S. Vicente.
-Valeu a pena?
-Estou com Pessoa: Tudo vale a pena se a alma não é pequena.
Saímos cedo, regressámos tarde, e tudo valeu a pena.
Valeu a pena percorrer com detença a Ermida de Guadalupe da Comenda da Raposeira, em honra do Milagre de 1320, e guiados por quem foi seu conservador durante mais de uma quinzena de anos. O irmão Serra que a conhece como ninguém, mesmo quando exprime a dúvida do seu desconhecimento.
Percorrer e tocar as pedras ancestrais de grés regional, dos capiteis da capela-mor, as mísula da nave do transepto, a pia de água benta, olhar a abobada e maravilharmo-nos com a obra do Homem a olhar os céus.
Influência gótica, nos dois lumes janelões da capela, no arco da entrada, fachada de segredos ocultos em que nem a porta nem o óculo, estão ao centro geométrico antes desfasados segundo a regra do terço, em que o terceiro, o espirito santo parece omnipresente.
Local de peregrinações seculares, inspiração de navegadores, e marinheiros afoitos, e proteção invocativa de aflitos e vítimas cativas de corsários e sarracenos. Certo é que nos arredores há menires e mais sinais de uma ocupação pagã muito antiga a cruzar-se com reaproveitamento cristão mais tardio, e próprios de uma cultura agro-pastoril. Monumento Nacional desde 1910, a Ermida vale uma vista demorada com vontades de descodificação.
Quanto à procissão teve menos de esotérico e mais de exotérico. Barcos engalanados, entusiasmo popular, devoção tradicional a N. Sra da Graça com a imagem saída da capela do mesmo nome datada dos seculos XV e XVI. Colorido, muita gente, e depois a prece em círculo com o Padre a soltar a sua invocação pelo megafone do barco da polícia marítima. Saída do Porto de beliche em Sagres, ida e torna viagem ate ao Cabo Sacro de São Vicente em cortejo de barcos, traineiras, iates e o mais flutuante.
Foi uma festa, uma celebração de mid summer na Encruzilhada com o pagão popular e o sagrado cristão, com a cor e alegrias próprias de gentes simples e de bem numa pausa merecida num ano de trabalho, de atribulações e de dificuldades.
Ficam as fotos para um registo partilhado por quem se interesse por estas coisas. Ou venha a interessar. E que assim seja!
PS.
1. Claro que houve dois ágapes, um ao almoço e outro ao jantar, almoço a entrada de Sagres e jantar na marina de Albufeira, discretos e satisfatórios. E Claro que havia autocaravanas, de pescadores e outros turistas, portugueses, espanhóis franceses e ingleses, também discretas e satisfatoriamente aparcadas sem excessos, quiçá para uma pernoita itinerante frente a baia do porto de Sagres...
2. Bibliografia flash:
http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA1/PDF/Ermida%20de%20Nossa%20Senhora%20da%20GuadalupePDF.pdf (ermida)http://sagresschool.blogspot.pt/2007/01/fortaleza-de-sagres-entre-os-60.html (sagres)
belissimos azuis que a fotografia do telemovel empalidece....
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