Mr. Bogus é um dos leitores mais assíduos do Blog. relê textos, critica as fotos, emenda dislexias digitais, soletra sugestões, dá dicas, recomenda sites, transmite opiniões e até por vezes pede palpites. Nunca pergunta por respostas, mas pergunta por perguntas. Motivos mais do que suficientes para uma entrevista nesta época de balanço de dois anos da Newsletter.
Fica assim retribuida a entrevista que m etmpos fez ao autor deste Blog e Newsletter em:
http://camping-caravanismo-e-autocaravanismo.blogspot.com/2007/04/pascoa-de-2007-e-entrevista-com-mr.html
R: Depende. O Homem é a medida de si próprio, e por isso cada caso é um caso. As soluções dependem do estatuto pessoal, e da bolsa de cada um. O autocaravanismo pode ser praticado por quem aprecie um certo estilo de vida descontraído, não sedentário. Exige uma postura dinâmica, e um gosto pela viagem, pelo desconhecido e pela sua descoberta, com abertura a novos horizontes, desafios, gentes, costumes e hábitos. E permite uma inter reacção construtiva com o Mundo em que vivemos. Por isso tanto pode ser a resposta para um jovem casal, como para um casal com filhos ou para seniores. Pressupõe todavia para mim, a noção de companhia. Isto não significa que o autocaravanismo solitário não seja adequado a quem esteja sózinho, ou, como muitas vezes acontece, viaje acompanhado de quatro patas.
R: No meu caso, o início foram mesmo as viagens em família, dos tempos de criança. As deslocações de carro, os pic-nics, e as viagens de turismo de exploração quer em Moçambique, nos idos anos cinquenta, e em Portugal. Recordo-me até de uma experiência marcante, um naufrágio no Inharrime próximo antiga Vila de João Belo, e das viagens em jeep ou de pickup de caixa aberta com o meu pai, nas sua deslocações de engenheiro a obras públicas. O gosto de partir, e o prazer de regressar a casa, de ter coisas aprendidas e a contar, representam um fascínio de sempre. Muito mais tarde, como estudante, as idas de comboio até ao Algarve, as pousadas de juventude, e depois de carro, e o campismo, a primeira volta a Itália, e mais tarde ainda, já em actividade profissional as deslocações de avião por motivos profissionais. A fase seguinte, já com filhos, foi a do atrelado combi-camp, (igual à da foto) depois as caravanas, até que finalmente surgiu a autocaravana, primeiro alugada, e depois adquirida em segunda mão. No meu tempo, era mais difícil do que hoje o acesso a este último estágio. Claro que este percurso não serve de sugestão a ninguém. Todavia, não parece que o autocaravanismo deva ser olhado da mesma maneira que a compra de um apartamento em time-sharing, é mesmo seu oposto, pois em vez de criar raízes, significa navegar em terra. Cada um terá que averiguar se é semovente ou não.
R: Tenho para mim que um dos maiores prazeres da viagem é a preparação, ou o seu registo e relato, uma vez concluída. É a parte menos egoísta do autocaravanismo de lazer. A mais egoísta é mesmo o seu gozo,as outras fases pressupõe mais momentos de partilha, e de exercício gregário de expectativas.
A construção de uma viagem é sempre gratificante e apela ao estudo, à pesquisa e à aprendizagem, Hoje como auxílio indispensável da internet, mas sem esquecer os livros e guias, mapas de estradas, roteiros de turismo, incluindo o recurso as experiências vividas dos que nos antecederam. Muitas sugestões úteis encontram-se em blogs, web pages, newsgroups, foruns, e conversas com amigos. A escolha da época do ano também é relevante, e o período que em Portugal vai do equinócio da primavera ate ao equinócio do outono, é o mais privilegiado, sem prejuízo de outras ocasiões em que férias escolares, ou pontes são também propiciatórios de deslocações curtas. Há ainda que considerar que certas actividades profissionais permitem conciliar o útil, com o agradável. Por mim apenas não considero ajustado utilizar a autocaravana de forma sedentária, mais do que 48h no mesmo local é excepção.
R: De facto não. Com crianças, ainda admito a estadia de alguns dias acampado num parque de campismo, mas para elas puderem usufruir de equipamentos como piscinas, parques infantis, programas de animação, praias etc., mas para isso para quê a autocaravana? quer em tenda, caravana ou bungalow, consegue-se esse objectivo mais adequadamente. Pessoalmente, em autocaravana estaciono em parques de campismo em situações bem precisas: no inverno por razões de segurança, e em viagem quando em cidades sem facilidades de parkings para autocaravanas, ou ainda quando é necessário pernoitar com infraestruturas para fazer abastecimentos de agua ou electricidade. Fora isso recorro as áreas de serviço e pernoita para autocaravanas, cada vez mais frequentes quer gratuitas, quer pagas. Pelo contrario, no tempo das caravanas usava sistematicamente parques de campismo, embora nunca mais do que 5 noites consecutivas no mesmo local.
R: Claramente o estrangeiro. O País de eleição para mim é a França, e para a percorrer são-me indispensáveis os guias e Mapas Michelin, o guia dos Routiers, etc. Porém A Espanha esta cada vez mais convidativa para os autocaravanistas, e a Itália é igualmente sempre sedutora. Em quarto lugar colocaria a Alemanha, a Suissa, a Áustria ex aequo, e mais distantes em preferência,a Holanda a Bélgica e os países nórdicos. Claro, trata-se de gostos pessoais, mas a distância de Portugal na periferia da Europa, condiciona concerteza muitas opções. Portugal tem por natureza da proximidade mais oportunidades de visita, mas por outros meios que não o autocaravanismo. Mas, para quem receie aventurar-se além fronteiras, é a solução, bem como para viagens temáticas e bem definidas, por ex. A rota das amendoeiras em flor, dos castelos, das lagoas, das praias, das barragens, dos mosteiros, dos parques naturais etc.
Normalmente viajo a dois, em casal. Mais raro, com amigos autocaravanistas no máximo com três autocaravanas, evitando sempre as grandes concentrações, e as colunas em estrada que não me motivam.
R: Quanto a política oficial, parece-me inexistente, sem visão de conjunto, quer para consumo interno, quer para artigo de exportação. Não vejo que o Governo ou a Assembleia da República, nem sequer a Associação dos Municípios, e os seus políticos preocuparem-se com o sector, e assumirem posições estratégicas. Em Espanha a situação é diferente, há uma senadora de referência a Sra Chacon, há clubes de autocaravanistas actuantes e com capacidade de resposta por parte das autoridades, incluindo as policiais, como se sabe com resultados positivos obtidos recentemente. Em Portugal, falta um interlocutor privado a nível federativo, falta um membro do governo no turismo que se interesse, e faltam também políticos locais ou nacionais que se assumam no estudo e propostas de dignificação, e promoção desta actividade, de evidente interesse económico, pela contribuição de correcção da sazonalidade e de apetência pelo turismo de interior que a caracteriza, nas suas valências de cultura, artesanato, folclore, gastronomia e shopping tradicional, incluindo comercio local, feiras etc.
Quanto aos foruns...há mais mirones do que participantes, e muitas vezes há um certo distanciamento de participação nas temáticas estratégicas, e dificilmente a situação poderá inverter-se. Existe um alheamento natural de tudo quanto seja mais profundo, sério e complexo, pois os aspectos lúdicos ou utilitários, sobrepõem-se aos demais, e por vezes com o resvalar em afrontas pessoais rasteiras. Pode ser que a adopção de códigos de ética, etiqueta e boas práticas melhore o nível, e ate atraia novos intervenientes. Mas nada substitui o trabalho e o estudo, isto é a a elaboração de teses e comunicações, e a sua discussão em seminários, mesas redondas ou mesmo num congresso. Mas quem está para isso? Quantas pessoas se manifestaram sobre a proposta de um Observatório não governamental para o autocaravanismo, como proposto por ai? E se calhar, era mesmo esse o caminho, para se fazer caminho, caminhando...