quarta-feira, setembro 26, 2007

Peregrinação (a pé) no caminho de Santiago de Compostela


Nota de introdução:

Desta vez a viagem não foi feita de autocaravana, mas num misto, de carro e a pé. De carro desde Lisboa ate Pico de Regalados, e daqui para O Cebreiro, e depois de Santiago de volta para Lisboa.

O que estava em causa era mesmo uma peregrinação a pé, pelos caminhos de santiago, concretamente os ultimos 152Km do caminho francês, na Galiza, desde o Cebreiro até Santiago de Compostela, integrado num grupo de 15 peregrinos, dos quais mais dois AC, sócios do CPA. Estes 15 deslocaram-se em 4 carros, de Portugal ate ao Cebreiro, local de início da peregrinaçao na manhã de 17 de Setembro, concluindo-se tudo a 25 de Setembro finda a missa do peregrino, na Catedral.

Mas expliquemos a logistica: Cada dia de manhã, as mochilas mais pesadas iam de taxi para a residencial, hostal ou hotel seguinte, e assim quando lá chegavamos elas estavam a nossa espera (custo médio por pessoa 2€ diarios). Depois , de dois em dois dias aproximadamente, os quatro motoristas iam de taxi até duas etapes atrás, buscar os carros, que traziam até a etape concluida, a conduzir.(custo médio por pessoa cerca de 3,50€ pelos taxis)

Quer isto dizer que é possível conciliar esta viagem e peregrinaçao, com a autocaravana, ou com carro e caravana, ou com carro e tenda de campimso. Ou seja como veiculo de apoio, conduzido por quem não faz a caminhada a pé, ou nos mesmos termos que os acima descritos. A chegada a uma etape, a pé, pressupõe que os ocupantes da autocaravana, ou condutores do conjunto de carro e caravana, ou só do carro, retornem ao ponto de partida, de taxi, para recuperarem a viatura, e assim dormirem nesta, na etape concluida, no dia seguinte, repetição da cena...saida a pé, e ao fim do dia retoma da autocaravana em taxi, condução da dita até a etape concluida, e assim sucessivamente. Problema existe apenas para quem tem tenda, o uso de camping sera indispensavel, e este nem sempre estará localizado proximo da localidade da etape percorrida. Todavia para autocaravanas, e mesmo até com carro e caravana, havera sempre lugar e tolerância para uma pernoita de peregrino: Vantagens?
Poupa-se o hotel (dormida na AC) e poupam-se os taxis das malas ( esta tudo na AC).

Desvantagens? nenhuma em especial, e locais de estacionamento existem sempre por uma noite, sem problema, até mesmo em Santiago (parking do Auditorium da Galiza).Eventualmente para quem use tenda podera acmpar em inumeras quintas do caminho com autorização dos respectivos porprietarios, ou nos terrenso dos albergues (publicos) do Caminho

Assim: 8 dias a caminhar a pé num total de 152Km, na Galiza
desde O Cebreiro até Santiago de Compostela,
pelo caminho Francês
por veredas, trilhos, estradões, pistas, pistas,rios, ribeiras...
desde 17 a 24 de Setembro de 2007 .

(dia 25 de Setembro assistência à missa do peregrino as 12h e ao ritual do botafumeiro na Catedral, para depois de almoço regressar a Lisboa, de carro)


Concentração dos 15 peregrinos do grupo (autodenominado Ultreia II) em Picos de Regalados (ver mapa) a um almoço em resturante local e regional...ao bloguista, averso ao prato do dia de arroz de cabidela de galo pica no chão, coube um bacalhau de estalo...exactamente o da foto!

Seguiu-se a visita a Igreja do local, e uma benção aos peregrinos pelo Padre. Momento azado para colocar uma pena branca de pomba alva no chapeu-fetiche comprado já em 2000, em Marrakech por pele de camelo.

E depois, distribuidos os 15 por quatro viaturas, rumo a fronteira e daqui para Orense, passando por Monforte de Lemos, ja escurecida a noite, até finalemnte chegar pela A6 à mítica localidade de O Cebreiro, onde o escritor braisleiro Paulo Coelho quer ver espalhadas as suas cinzas depois de cremado. (Cfr. "Ser como o Rio que flui", ed. Pergaminho, pag.86. Chegamos dia 16 de Setembro já noite cerrada ao Hostal Giraldo de Aurillac, com quase tudo fechado, pelas 22.30h. Sorte nossa, um jogo televisivo de futebol, que atardou os empregados, ou ainda teriamos de dormir nos carros. Fica já dito, que a noite foi aos 1300m de altitude, violenta de raios, trovoadas e trovões, a ponto de destruir a iluminação electrica. Umas boas vindas aos peregrinos em forma...para o início do dia seguinte.

1º dia, 2F, 17 de Setembro de 2007. (Cebreiro-Tricastela 21,69km)
saída pelas 9.45h e chegada pelas 18.45h

Começamos pois, debaixo de chuva e de céu inamistoso. Café com leite e tostadas com manteiga e doce (as nossas torradas em galego) e depois na igreja local a compra da credencial de peregrino (1€) desde logo selada (carimbada e datada) para atestar o nosso início de viagem pedestre. Botas com as tais peugas anti-bolhas (não é publicidade da Decathlon, são mesmo eficazes), bordão de esquiador regulavel, capa anti chuva, chapeu, cantil, bolachas energeticas para diabéticos, mochila leve e toca a subir até aos cerca de 1.400m. Primeira e minha séria dificuldade, o ar rarefeito de oxigénio, a ofegar a respiração dos 62 anos, e mais de 100kg de peso, e a exigir uma boa meia-hora de adaptação. Deixámos o casario de colmo de antecedentes celtas, e as ruas medievais, a igreja, e pés ao caminho: nem nariz do ar, nem olhos no chão, mas no horizonte...


O programa seguiu-se, primeiro Linares, igreja, e casa do Jaime sem necessidade ainda de café, depois Hospital da Condesa, mais Igreja, e depois uma subida ingreme até ao Alto do Poio (corto pero durisimo ascenso dizia a cábula do footbook). E regista-se ainda a seguir, Viduedo, Pasantes (granizada e chuva fortissima) ate debaixo de enxurradas, com agua a entrar pelo cano das botas. Por fim chegou-se finalmente a Tricastela, (terra dos três castros) às pensões David e Garcia por onde o grupo se dividiu, mas não sem antes cobrar mais um selo (carimbo no passaporte) da Igreja local. Xantar (o nosso Jantar) em grupo na pensão Garcia, onde mudadas as roupas, recuperamos apetite. Nas fotos, igreja de Linares, monumento ao peregrino, restaurante do alto do Poio...caldo gallego, pão casqueiro, l tortilla de queso, café, selo no passaporte..e forma 5,80€. Jantar completo por 10€.


Pelo caminho as primeiras impressões...as botas são adequadas, o bastão também, com regulação em cerca de 1,35m, o caminho silencioso, poucos pássaros a altitude que se atingiu, muitas igrejas, refúgios de tectos de ardósia, e paredes de pedra de xisto..e aqui ficam as fotos:













Note-se: quase total ausência de sons...passaros não cantam, cães não ladram, vacas não mugem, cabras não balem, porcos não grunhem, e as pessoas pouco falam umas com a as outras, enquanto caminham. A população também nao interage com os peregrinos caminhantes. Apenas uma camponesa esperta, salta ao caminho a oferecer panquecas, ou crepes, que ela chama de filhóses...e cobra um euro cada, enfim, uma espécie de portagem pedestre, agora com direito a foto, ao lado das vacas e cabras que cruzamos.






2º dia, 3F, 18 de Setembro, Tricastela- Sarria, 18,37 Km

Dia excelente e límpido ao acordar, pelas 8.15h. Pequeno almoço de plástico...café com leite e paezinhos e queques embrulhados em embalagens plastificadas. Saida apenas as 10h directos a San Xil, opção alternativa ao caminho do mosteiro de Samos.



Excelente início, caminho soberbo a subir a encosta ao lado do rio por entre floresta e cruzamento com vacas e poucos camponeses. Depois, passagem por uma fonte decorada com a concha vieira, e no cimo da subida casa de telhado de ardosia, alguns a necessitar de reparação como alias atestam os caixotes de reserva de material.

caminhada muitas vezes só, até a casa Franco, cerca do Km 120, para um almoço frugal em que quase todo o grupo se reuniu.






Esta etape decorreu sem grandes dificuldades e a chegada a Sarria, pelas 18h foi mesmo a tempo de uma boa recuperaçao no Hotel Roma, unico inconveniente, nao ter elevador, e talvez o facto de e ficar no termo da povoação junto a estação dos caminhos de ferro...afinal um bom local tambem para estacionar uma autocaravana junto a uma ponte medieval. Jantar tambem no Hotel, para poupar passos...

3º dia, 4F, 19 de Setembro, Sarria-Porto Marin 21km


Ora bem, desta vez o corpo já estava mais feito ao caminho, e o facto da saida ter sido as 9.30h permitiu chegar ao Hotel de destino, a Pousada, em boa hora, pelas 17.30h e como este tinha piscina, havia sol...será preciso acrescentar mais alguma coisa? porém foi um dos dias mais duros para outros elementos do grupo a chegarem ao hotel cerca das 20h...Por isso e como era dia de ir recuperar os carros (estavam em Tricastela) e alguns dos condutores estavam cansados, e era tarde, fiquei como voluntario e lá fomos, uns quatro jantar fora por 11€ (no hotel os outros comeram por 22€ por cabeça) uma serie de petiscos desde o pulpo a la feria, pimentos de padron, carne de porco, calamares, e cerveja clara (metade cerveja e metade limonada). Esta diversão permitiu ao fazer o percurso de carro...de regresso, passarmos pelo Mosteiro de Samos e dar uma vista de olhos na albergaria de peregrinos, (gratuita) um amplo dormitorio com beliches, e homens a esquerda e mulheres a direita...




4º dia, 5F, 20 de Setembro, Portomarin- Palas de Rey, 23,7 Km

Arranque debaixo de nevoeiro, depois de pequeno almoço tipo buffet, de 4 estrelas, mas às 9h todos prontos a partir...descida e cruzamento do Rio Minho por uma ponte pedestre ferrea, e balançante... e prossegue a caminhada com duas baixas temporarias...que seguiram de carro.





Almoço em tasca pelo caminho, por preços decentes, ver placard do anuncio...

Bonitas paisagens, muitos peregrinos alemães, e bom tempo a levantar-se ao nosso encontro. Nada de registo importante (para além da constante meditação do peregrino- mas isso são contas de outro rosário, e notas de outros apontamentos) com final no Hotel Vilarinho pelas 17.30h. Depois de jantar serão de conversa até às tantas sobre o signifiacdo esotérico dos algarismos arabes... numa esplanada a volta dos cafés e licores de ervas da região, incluindo o Pacharan.

5º dia, 6F, 21 de Setembro, Palas de Rey - Melide, 24.3 KM


Pois esta foi a etape que menos custou fazer, nada de excessivos calores, nem de ingremes subidas nem de descidas a pique igualmente dificeis pelo esforço muscular de travagem...Era hora de almoço, e já estava em Melide, imagine-se...claro que isso significa tempo para visitar o museu local (etnografico) e o comercio local ainda sem super ou hipermercados a lembrar Lisboa do patio das cantigas com as retrosarias que tudo tinham, e a preços contidos. Ficam os registos das fotos...Qunato ao jantar foi na pulperia famosa do Ezequiel...Na memória, pouco antes de Melide a Igreja do Cristo torto, assim designado por ter um dos braços despregado da cruz. No passaporte de peregrino lá ficou o carimbo a atestar a passagem!

6º dia, Sábado, 22 de Setembro, Melide-Arzua, 13,1 Km

A etape mais pequena, e nem por isso a mais fácil para quem ja tinha tantos km acumulados. No meu caso, ainda deu para atravessar a feira local e passar pelas bancas de pulperia ao ar livre...Ah! se por lá andasse a ASAE, não haveria tasca que se safasse... nem touca para os cabelos, nem sempre luvas, que atentados a higiene lusa!





Bom tempo, e bom hotel (Hotel Suiza) no final com bom jantar também, num turismo rural por cerca de 11 euros...a paisagem mais suave facilitou a progressão e cada vez mais povoado o caminho, multiplicaram-se os espigueiros, e os lavadouros comunitarios de beira de caminho, como os das fotos







7º dia, Domingo, 23 de Setembro, Arzua- Arco do Pino, 17,9km Hotel O Pino

Dia de equinócio de Outono. Saida do hotel pelas 9.45h e de passos seguros primeira paragema s 12h para bolacha e agua a uma média de 4.5km/hora, seme sforço apenas com determinaçao pausada que o caminho a isso convidava. Mais tarde, sozinho, pelas 13h em Santa Irene, no Meson Empalme, um bocadillo sentado a mesa e duas cervejas, uma sem alcool, e outra clara, total 5,70€. Chegada ao Hotel O Pino, sem problema, embora dois dos nosso colegas tenham falhado a placa indicativa, e em resultado...do engano, mais 5Km de ir e vir, a pé claro.
Passagem por areas mais agricultadas, mas por caminhos bem suaves e interessantes. A certa altura numa curva do caminho homenagem a um peregrino morto a meio da caminhada (foto) e sempre, omnipresentes, igrejas, fontes, pontes, cruzeiros e mais peregrinos cujo numero naturalmente se adensa quando convergimos para Santiago.

8º dia, 2F, 24 de Setembro, Arco do Pino- Santiago, 19km

Saida com neblina, pelas 9.15, passagem pelo aeroporto de Lavacolla, (foto das torres de iluminaçao da pista) e pelo ribeiro do mesmo nome onde durante milénios se lavaram os pregrinos quase ja a vista de Santiago. Seguiu-se depois o Monte do Gozo, a escultura moderna e a primeira visão das torres da Catedral de Santiago...e depois uma caminho a descer, ate entrar na cidade e ai...mais cerca de 3km por entre ruas urbanas ate a Porta de Pregrino, para depois nos aproximarmos da Obradoiro, da entrada principal da Catedral, ver a colunata do Santo, circular pelas magestosas naves, abraçar o Santo...e dar por finda a caminhada.
Aqui, nos serviços de apoio ao peregrino foi necessario exibir a credencial na qual tinhamos recolhidos os carimbos que atestavam a nossa peregrinaçao, nos varios locais de passagem para receber em troca, o diploma da Compostella...como milhares de outras pessaos o fizeram antes de nós e a internet regista abundantemente...é ver este exemplo : http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://www.geocities.com/Yosemite/8918/img/p08.jpg&imgrefurl=http://www.geocities.com/Yosemite/8918/credencial.html&h=557&w=401&sz=53&hl=pt-PT&start=4&tbnid=Ru4HCHPtgAmxAM:&tbnh=133&tbnw=96&prev=/images%3Fq%3Dcredencial%2Bde%2Bperegrino%2Bsantiago%26gbv%3D2%26svnum%3D10%26hl%3Dpt-PT%26sa%3DG
Jantar descontraido e regresso ao Hotel a pé (ida e volta mais 2km) com passagem pelo Jardim da Herradura e da estatua burlesca das duas comadres, a quem simbolicamente se dá esmola...





9º dia, 3F, 25 de Setembro, Santiago e regresso a Lisboa.

Dia final. Dia de algumas compras de recordações, entre elas um mosaico da concha de Santiago (inevitável), dia também de assitencia a missa do peregrino, na Catedral, com invocação do celebrante das várais delegações de peregrinos presentes, e imagine-se...dos EUA, do Canada, da Russia, da Australia, da Korea, e claro daas mais comuns e próximas, Eslovaquia, Austria, Alemanha, França, Portugal e de varios pontos de Espanha!


Ponto alto o botafumeiro (grande incensario) de que se junta o video possivel - no final deste relato- e as longas filas de comungantes.


Depois mais uma prosaica refeição de menu completo no Cafe Central, logo por detras da Ctaderal...15€ com diterito a cerveja clara, prato de chipirones grelhados e pulpo a la feria para mim, e para o meu parceiro algo semelhante mas com sopa rica de pescado, e arroz a valenciana. Depois, rota de Lisboa directos com saida pelas 14h, hora espanhola. perdão galega...de carro, como muito bem poderia ter sido de autocaravana!

Resta desejar a quem fizer o Caminhod e SAntiago, este, ou outro, a suadação ancestral entre peregrinos: BON CAMINO!

Video final, Ritual do Botafumeiro, acender o incensario da Catderal e seu balançamento




Nota final: sobre este tema pode ver-se também uma apresentação do Caminho de Santiago no almoço debate da Tertúlia do Bar do Além, Alenquer, no âmbito do VIII ano de actividade desta. e subordinada ao tem geral "o Oculto às Claras". Ver em http://bardoalem.blogspot.com/2007/09/almoo-debte-de-dia-29-de-setembro-sobre.html
Nota: o post para este link, um mês depois de ter sido publicado, foi visto 89 vezes no forum http://www.cpa-autocaravanas.com/ e 167 vezes no forum http://www.campingcarportugal.com/

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