sexta-feira, outubro 21, 2011

Apesar da crise, também há ainda autocaravanas em Strasbourg, em Outubro de 2011!


Pois, é verdade.
O homem põe, e o Grande Arquitecto do Universo dispõe, e por vezes, indispõe-se.

Estava previsto para este ano de 2011, em Outubro uma reunião profissional em Strasbourg, daquelas que têm lugar três vezes ao ano, e com uma calendarização atempada, e prefixada do ano anterior. Por isso já sei hoje quais a reuniões de 2012 e onde, e quando.

Por isso em 2011 lá estava agendada mentalmente a presença numa reunião em Paris (que se verificou, e de autocaravana como consta do relato neste blogue em Fevereiro) outra em Berna já já foi de todo impossível ir, pelo ataque à co-piloto de um maligno câncer, e agora em Outubro, mês de Verão serôdio, a presença ficou-se pela individual, uma vez que a desejada solução de autocaravana teve que ser posta de parte, por indisponibilidade da co-piloto.

Viagem pois de trabalho, com apenas Me, sem She. E de avião, pois claro. Mas com pensamento frequente na memória de anteriores viagens autocaravanistas a propósito de reuniões de trabalho profissionais, e o desejo firme de em momento posterior a vitória sobre o maligno se puder, talvez em 2012, volta as estradas europeias ao volante da semovente com a She ao lado como co-piloto, e companheira de viagem. Lá para Junho de 2012, a Paris, com a consorte, quem sabe?
(Barragem fortificada por Vauban vista do barco)


Ora então, numa madrugada de 5F, de Outubro, bem cedo, noite escura ainda, rumo ao aeroporto ao parque nº 3 e por duas noites, com o regresso aprazado para a noite de sábado. E chegado a este destino…uma autocaravana tipo camper, ou auto vivenda, de matrícula alemã ali estava jacente (e no mesmo local no regresso). Pretexto para interrogações sem resposta aos porquês da situação. Por isso estacionei por perto para o carro poder estabelecer na minha ausência, uma troca de impressões com a camper sobre viagens….

Check in rápido na Air France, só com bagagem de mão, e depois o controle de fronteira, de tirar sapatos, cinto, relógio, bolsa de líquidos de higiene, computador, porta-moedas etc. Tudo em ordem no controle electrónico. Faltava mais que tempo, e por isso hora de leitura do livro de Remy Boyer sobre o Despertar da Consciência. Indispensável diria eu, para quem se preocupa mais como Ser do que com o ter, que esses estiveram pelo duty free do shopping.

Depois de vários ding dongs da última chamada do passageiro X, para o voo tal, lá chegaram os ponteiros dos relógios à tesourada da minha hora de embarque. Lá ocupei o meu lugar preferido, de corredor, com o nosso indian summer lá fora, e com os jornais gratuitos franceses e portugueses disponíveis.

Endireitadas as costas das cadeiras, desligados os telemóveis, apertados os cintos, lá seguimos uns tantos naquele autocarro alado. A meio da viagem, um snack detestável de um pão brioche com misto plastificado de queijo e fiambrino, e a bebida disponível…e já lidos os jornais…voltou o pensamento para a viagem em autocaravana…e nas vantagens e desvantagens relativas de cada um destes meios de transporte e de viagem…

(vitral do transepto da Catedral)


À medida que o desafio dos neurónios ia decorrendo, os dedos e a caneta (que espirrou na altitude) foram convocados para registar no moleskine as notas comparativas. Assim foi durante a segunda parte da viagem, e quase a chegar a De Gaulle…já estava apurado o quadro comparativo….na coluna da esquerda os prós e contras do avião, e na direita, os outros prós e contras da autocaravana. Falta a pontuação do saldo que só pode ser apreciado subjectivamente…
(arte, paisagens e viagens)


Impossível reproduzir aqui o quadro manuscrito, mas deixa-se alguns exemplos para algum leitor mais dotado em informática poder estabelecer a solução visual correcta. Mas aqui ficam algumas pistas, e exemplos.

Quanto a rapidez, o avião assegura este item, mas a AC assegura mais tempo de viagem! E se este for o objectivo, então a AC supera o avião. Quanto ao preço o avião é mais barato do que a AC se for um só o viajante, se forem dois, a balança pende para a autocaravana. Um empate!

Quanto a comodidade, o avião permite as leituras do viajante e mesmo a escrita, e até o debicar de snacks em andamento, mas também na AC a co-piloto também é ahospedeira a bordo, e pode servir ao condutor um maçã ou uma bebida em andamento, e escrever notas ditadas, mas já quanto a leituras na AC népia, só do GPS…mas sobre a hipótese do telemóvel que não existe no avião, vence a AC, e de ouvir rádio, que também já não existe no avião. Quanto as cadeiras reclináveis, há quase um empate entre avião e AC, embora esta perde, pois não permite ao condutor viajante dormir em andamento.



Quanto a companhia a balança pende para a AC, pois a consorte é co-piloto, e no avião o parceiro do lado era um desconhecido(a). Quanto a paisagem… também ganha a AC pois de avião só se vislumbram nuvens.

No avião o viajante é passageiro, mas na AC passageiro é só a co-piloto. Claro que no avião o GPS é dispensável e na AC é aconselhável. Quanto ao fumar (politicamente incorrecto é certo) no avião é impossível, mas na AC ate cigarrilhas ou cachimbo se pode usar. Outros aspectos a registar…os horários pré fixados do avião e o chega quando chega, para quando quer da Autocaravana….No avião não se pode perder o bilhete, mas na AC também não se deve perder o ticket das portagens…e quanto aos sanitários no avião usam-se em andamento, mas na AC…o condutor tem de esperar por uma paragem!
(uma AC na margem do ill)
(vendedor de castanhas grelhadas em Strasbourg...)



Enfim, muito mais se poderia aprofundar incluindo a questão do shopping, possível em andamento e em voo, mas na AC só possível nas paragens nas localidades ou nos super, mas isso faz parte do prazer da viagem itinerante, em que a autocaravana é Rainha sem competição face ao avião, que por sua vez é Rei incontestado na viagem rápida para destinos de etapa. Ou seja de autocaravana cada etapa é uma viagem, e de avião cada destino é uma viagem...e na Autocravana um destino tem muitas etapas, muitas viagens..
( ao fundo, o início do Parlamenmto Europeu)


Entretanto depois do stop over em DeGaulle (do terminal 2B para o 2G, de autocarro) lá se chegou a Strasbourg, e daqui de táxi até ao Hotel, próximo do quarteirão do triângulo Europeu - Parlamento Europeu, Conselho da Europa, e Tribunal dos Direitos do Homem, junto ao jardim da Orangerie.

(original coffee shop em autocaravana? no aeroporto De Gaulle em Paris)

Havia tempo para ir a pé depois de por a bagagem no quarto, para ir ate ao centro e depois comparecer no primeiro compromisso na Câmara Municipal ao fim do dia. Começou-se pois pelo cais dos Bateliers (barqueiros) e para uma viagem de barco (Batorama,por 9€) pelos canais do Rio l´ill, com passagem por duas eclusas, uma ascendente e outra descendente, à volta da velha Strasbourg classificada de património mundial pela Unesco, em recordação de outras visitas de turismo e de trabalho de anos anteriores.

(ao lado do hotel, um edificio fascinante)


Belíssima paisagem com o limite por um lado da barragem do génio de arquitectura militar Vauban (tantas vezes citado na crónicas de viagem incluídas neste blogue) e os edifícios do Parlamento Europeu e do Conselho da Europa (onde na respectiva Assembleia Parlamentar discursou nesse mesmo dia o leader da Palestina).

Seguiu-se o deambular pedestre sem rumo certo, mas com visita obrigatória à Petite France, Catedral, e Às praças Kleber, Broglie, Gutenberg, e de l´Université…. Incluindo um paragem num bistro ou winstub, para um lanche alimentar de sandwich de queijo e vegetais, até que chegou a hora das obrigações que aqui não vem ao caso divulgar, e que uma vez concluídas e sob chuva aconselharam o regresso ao hotel, de táxi.

Dia seguinte sem história para o relato de viagem. Foi todo o dia de trabalho à porta fechada, com tradução simultânea franco-inglesa, apenas interrompido para um almoço de função, embora sofisticado. Curiosamente a caminho do local da reunião, e nas margens do Rio dormia uma autocaravana sossegadamente, talvez de um residente, ou de um turista.

(Praça Kleber)

Exausto ao fim do dia e terminados os trabalhos, a melhor solução foi enfrentar um novo circuito pedestre a volta de Strasbourg a revisitar outra vez a Catefral, o Palais Royan, a Igreja protestante de S, João-o-novo, a Praça da República, o que me deve ter levado a percorrer por uma estimativa conservadora, cerca de uma dúzia de KM. Registe-se ainda, que o tempo estava excelente, sem nuvens, nem chuva, nem frio, e como era sexta-feira a noite com muitos estudantes e outras pessoas a circularem a pé, e de bicicleta, com a generalidade das esplanadas e dos restaurantes cheios….sem vislumbres de crise.
(almoço de sexta a sofisticaçao de dois lombos de rouget)



Foi também a ocasião de comprar um pequeno livro (já devorado) de Stéphane Hessel e Edagar Morin sob o título “Le chemin de l´espérance”. Edição Fayard, 2011, 10€. Basta dizer que vale a pena, sempre à volta da mesma questão existencial essencial: O valor social está em MELHOR, ou em MAIS? Enfim, mais uma dica bibliográfica que interessa aos que se interessam.

Entretanto, logo à saída do hotel estavam duas autocaravanas no estacionamento do separador central sem aparentes problemas policiais ou outros, mas também sem visível utilização. Curiosamente também, já noite caída, e frente ao pequeno restaurante onde fomos a uma dose de frites e dois steaks au poivre no Saveurs du Palais (próximo do Palácio da Justiça, por13€) lá nos deparamos com outra autocaravana em movimento…

Dia seguinte, sábado de manhã, o acordar cedo com os ruídos dos vizinhos do quarto ao lado, a arrumar malas e a das suas abluções matinais (desconhecidas para quem viaja de avião), segunda oportunidade de confirmar o satisfatório pequeno-almoço do hotel onde estavam também uns portugueses presentes para um seminário, acompanhar as notícias dos telejornais e a leitura dos matutinos, a reposta breve a alguns emails, e ainda a redacção do relatório da reunião do dia anterior. Na altura própria, o táxi chamado telefonicamente pela portaria compareceu e lá se seguiu para ao aeroporto com um condutor tagarela que bem gostava de Portugal e da nossa gastronomia farta e em conta, e ansiava de voltar a fazer turismo no nosso País.
( camper no aeroporto de Lisboa)


O regresso foi sem história. Avião Strasbourg-Paris, e Paris-Lisboa, com escala longa em De Gaulle. Tempo para comprar mais um livro que também se recomenda, e que facilitou o tempo de espera passar mais despercebido. Trata-se de Bernard Werber, autor de «Nouvelle encyclopédie du savoir relatif et absolu”, edição do Livre de Poche, Albin Michel, 2011, por 8€

Sem história, chegou-se ao avião o aeroporto de Lisboa. E no parque do estacionamento lá continuava o diálogo silencioso entre a autocaravana alemã e o carro que me iria levar a penates, para pelas 22h reencontrar a She de boa saúde, ao fim de um raid de cerca de 72h, aerotransportado, mas que bem teria trocado por uns doze dias de cerca de 5750K estimados ao volante da autocaravana, e por mais de uma razão!

Curiosamente já depois do regresso, ao passeara os olhos pelo anémico fórum do CPA, foi no fórum do CCP que se deparou um curioso texto do amigo Daniel Beja, (A Autocaravana faz-me bem à saúde mental ?) em que também intervieram com comentários ajustados de outros membros do Grupo Facebook uma Autocaravana e um Café, e que pode ser visto neste link:


Para além disso e de útil, apenas se retira do fórum CCP uma nota do companheiro MCAS ( o Prof Jose Caseiro) e limpidamente como é seu habito, deixa escrito:

“Aplaudo sempre quem traz novos motivos para discussão. Acho até redutor que um fórum sirva apenas para falar de pneus, baterias, áreas de serviço e consultoria on-line sobre onde comer, dormir e passear. Isso tudo é importante, muito importante e, felizmente, temos por cá gente muito generosa e sabedora, sempre pronta a ajudar, a quem eu também recorro quando preciso e agradeço a ajuda prestada. Aceito, porém, quem tem essa visão de um fórum, quem ache que esse é o “serviço” a partilhar e não se abra, por motivos que não me compete discorrer, a outras discussões relacionadas com o autocaravanismo.”.

(duas autocravanas próoximo do Jardim da Orangerie)

Subscreve-se o texto, felicita-se o autor, e pela nossa parte quer aqui neste blogue, quer fora dele e até se tornarem estéreis e agressivas as discussões nos fóruns (onde até já há quem escreva textos a encarnado!) sempre desenvolvemos e teorizamos sobre o ideal Autocaravanismo, a política do autocaravanismo e a teoria do Direito ao Autocaravanismo. Está tudo dito, por ora, sobre Strasbourg e autocaravanas.

(Paul Eluard: para além das coisas, e das pessoas, as ideias!)

2 comentários:

Maria Melo disse...

Bom Dia She e Me:
Gostaria de dizer que um autocaravanista é sempre um autocaravanista. Mesmo que viaje de avião tem sempre o coração na sua autocaravana. Eu percebo porque sinto o mesmo.
Boa viagem.
Maria Melo

seco disse...

Pois é ! Acabou por levar a AC no bolso (e no coração)!
Até já tinha autorização para o estacionamento no parque do Hotel e tudo!
Fica par Paris...