KIEV, 72H. O interessante e o insólito
Desta vez sem autocaravana, embora por lá se tivesse visto uma AC de matríucula espanhola, e até uma "autocaravana militar" da ex união sovietica, reconvertida em contentor sobre rodas de apoio a obras públicas...
Razões profissionais ditaram uma deslocação em viagem até Kiev. De 72h num percurso Lisboa Munique Kiev e volta. E em KIEV houve tempo suficiente para ver muito de interessante e encontra algo de insólito. Com se desenvolve nesta crónica, escrita de acordo com os parâmetros da Net. Curta, frases incisivas, poucos adjectivos, estilo directo, com referência palavras-chave, as do título. Acrescento eu, fotos a propósito.
Tudo se passou num blitz trip: e 6 a 9 de Outubro. Sozinho, Just me.
Dia 1. Partida de casa às 6h e pouco, avião descola as 8h e pouco. Antes no átrio de espera as notícias do dia: chumbo da candidatura portuguesa de Juízes ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Natural, face ao estado da Justiça em Portugal. Depois, mais noticias dos 100 anos da República, Soares a pedir mais transparência ao Estado e Cavaco a favor da coesão.
No avião a leitura de Viagem comprada para o efeito. O livro da Consciência de Damásio. Que foi companhia de estadia também, e voltou com cerca de 350 paginas lidas e anotadas. Apenas um adjectivo: estimulante.
Depois de um stopover de transit em Munique, chegada a KIEV com o contacto à espera no aeroporto. Pois o táxi previsto de 15€ para o Hotel tivera um acidente, outro havia por 17€, nem se discute. No final foram-se 15 e mais 20 moedas locais, quase 2 euros, e spasybi (obrigado)!
Para chegar ao centro uma via com quatro faixas de rodagem em cada sentido. Cheias. A maioria das viaturas com menos de 10 anos, o que é obra, pois só passaram 19 anos após a independência da Ucrânia da falecida URSS. Mais próximo da cidade com 3 milhões de habitantes (e outros 2 milhões nos arredores), os engarrafamentos. Mas o motorista de táxi privat (não oficial, sem recibo) seguiu rápido pelas ruas do cais fluvial, e bem, já que o hotel Perlina era um dos vários ditos flutuantes na margem do Dniper.
Aqui tudo ok. A reserva pré paga estava confirmada. O quarto sofrível, e o atendimento num speakeasy inglês aceitável. Até, (1ºinsólito) havia um groom do Congo a falar francês! O próprio hotel estava solidamente ancorado e espetado por estacas no rio. Não flutuava portanto, como no Web site: www.perlina.kiev.ua. Mas a wifi net impecável e gratuita era de acesso temperamental, mas diária.
A decisão do jantar foi tomada com dois participantes franceses da reunião agendada. Noite caída, ambiente desconhecido, língua impossível de decifrar pelos caracteres cirílicos, frio de 2º, a opção recaiu num restaurante flutuante típico no mesmo cais, após um edifico de escritórios novo, também flutuante, e de um bar, igualmente num assomo de embarcação.
Pois o jantar correu bem. O local Xytopok, parecia um celeiro de província com decoração kitch de filme russo. Peles de raposas nas paredes, alfaias agrícolas, galinhas, coelhos e cabeças de javali empalhadas, tracejamentos de madeira forte, velharias diversas dependuradas, mesas de madeirame sólido, e empregadas robustas de fatos típicos, que no final decantaram as canções do reportório com os colegas a tocarem violino. A favor também a lareira acesa, e o menu em bilingue. Preço? Com sopas de bortch (legumes com carne) prato principal, cerveja local Sylvitch, pão de olho, vinho e cafés…cada um 270 moedas locais, cerca de 26 euros per capita.No contexto foi aceitável. Aliás o custo de vida pareceu-me, para estrangeiro, similar ao de Lisboa.
No quarto, revisão de mails, leitura de Damásio, consulta de documentos da reunião e sustentação da intervenção agendada, e curta vista de televisão. Dos 27 canais visíveis, um italiano sobre automóveis, um XXX que dispensava legendas e discursos, o Euronews repetitivo, e tudo o mais russo, romeno ou ucraniano ininteligíveis.
Dia 2. Acordar natural, e pequeno-almoço lauto, com tudo a que havia direito: omeletas, salsichas, pão de sementes, iogurte, legumes salteados manteiga marca MACAO, café expresso, mortadela, queijo estriado e tipo creme, etc. Boas vistas da sala, com janela para o rio. Curiosamente de nulo movimento de embarcações.
Depois foi o calcorrear das 9h até as 13h do centro urbano possível e lá se devem ter percorrido mais de uns 7K, com o pormenor de ser bastante a subir já que junto ao rio há uma encosta, desenvolvendo-se a cidade no planalto subsequente. O insólito consistiu na percepção da religiosidade evidente, cristã ortodoxa, contrastando com a opulência de muitos carros de preço, jeeps e monovolumes, pretos de vidros escurecidos ou prateados, parados em cima de passeios. Também insólito, um hotel e restaurante MAFIA. Há um certo ambiente indefinido de Pais de Leste, entre Ocidente Europeu e Oriente Russo. Sem pobreza chocante aparente, mas com choque de opulência ostensiva.
Nesta volta houve ocasião de usar o funicular (0.15centimos) de passar pelo Metro (escuro e muito frequentado) pela Praça da Independência (Maidan), pela catedral de Santa Sofia cor verde, (Património Mundial classificado pela Unesco), Catedral de São Miguel, cor azul, e fronteiras uma à outra numa grande praça onde também fica o Ministério do Interior, guardado por polícias de camuflado e metralhadora. Insólito.
Para o almoço, sozinho, optei por um restaurante com business lunch. Foi o Arizona que anunciava bebida, entrada, pão, e prato principal tudo incluído, por 69RPH, ou seja menos de 7 euros, como café expresso foram mais 25RPH (cerca de 2,5€) e ainda mais 10% de gratificação, dita não incluída nos preços.
Ora o pão, a manteiga e bebida normais…o prato escolhido, 3 variedades de salsicha e batatas fritas sofrível, mas a sopa de cogumelos gratinada estava excepcional! Como O restaurante fica próximo do Rio pode ser opção interessante para quem fica nos hotéis. Fora da hora de almoço, os preços por prato à lista custavam todos acima de 100 RPH, e em geral a ideia que fica é que será difícil ter uma refeição por menos de 15 euros.
Após almoço, trabalho. Toda a tarde sessão de trabalho, mas no final com uma simpática recepção em pé, que serviu de jantar com os pratos típicos espartanos: várias formas de legumes cozinhados, carne de frango, fruta, refrigerantes, queijo, mas nada de vinho, nem de camarão, ou de peixe que não fossem salmão ou truta. Café excelente. Quer para a reunião quer no regresso, serviço de bus colectivo o que facilitou extraordinariamente as deslocações.
3º dia. Novamente um lauto banquete de buffet pequeno-almoço. Antes de partir novamente no bus da organização com os demais participantes da reunião aproveitei para assistir a parte de um serviço religioso, numa pequena capela ortodoxo, numa ilha artificial no rio com ponte cais privativa. Interessante, e patente a religiosidade popular. A seguir após uma visita de estudo ao parlamento, foi todo o dia reunião de trabalho, almoço de trabalho (25€) discussões de trabalho, intervenções de trabalho. Curiosos o pormenor de apesar de haver prato de peixe e de carne, os talheres serem exactamente iguais. Nota negativa para o vinho tinto e branco ucraniano. Simplesmente intragável, tanto quanto é impronunciavel. Insólito também os sanitários ( de pé) à turca, ou à soviética!
A parte turística consistiu numa visita ao Museu de Arte Contemporânea, propriedade de a uma Fundação privada de um mecenas ucraniano com negócios florescentes ligados ao imobiliário e à ourivesaria. Na ocasião assistiu-se a um espectáculo musical em que se salientou o instrumento nacional Bandura (espécie de bandolim). Para saber mais ver em http://www.youtube.com/watch?v=9sKJPEmfLIU&feature=related
Cantorias a preceito do folclore em vozes feministas e ainda evoluções de ballet de crianças… No final, uma recepção em pé, com elegante apresentação, mas com os incontornáveis acepipes ucranianos, com pouca carne ou peixe, e muitos legumes e fruta (maça, pêra). Desta vez, bebidas mais sortidas e alcoólicas internacionais, incluindo conhaques ucranianos.
O mecenas e economista, Sergei Soupko Vitorovitch de seu nome, explicou que comprara o edifício (três andares com 3000m2) ao Estado, onde estava instalada uma fábrica de armas soviética e mantém exposições permanentes e rotativas das 5000 obras da sua colecção. Ver mais em www.mfamu.org.ua da visita retêm-se o insólito dos quadros da época do realismo soviético e apologéticos de Lenine.
Regresso ao Hotel já tardio. No canal euronews as notícias do prémio Nobel da Paz ao chinês dissidente faziam manchete, e também o desastre ecológico da Hungria.
4º dia, e 72º hora!
Final de Viagem de manhã de circuito turístico antes de rumar em companhia do representante da Grécia, para ao aeroporto, em mais um privat táxi por 200 moedas locais (2 notas de 100).
Pode-se sem adjectivação excessiva dizer que é espectacular o complexo religioso de Pecherska Lavra do século XI. Interessantes as três igrejas visitadas das 17 existentes… e ficou a pena de não se terem visitado as catacumbas. Mas o tempo de uma manhã inteira foi insuficiente para também passar pelo monumento aos três irmãos e à sua irmã fundadores de Kiev, ao monumento da amizade entre os povos (estilo soviético-heroico) e aos miradouros sobre as ilhas do rio Dniper, e a paisagem aberta de Kiev e das suas cidades satélites em crescimento. Como era sábado muitos recém casados posavam para as fotografais da praxe pelos parques, ao mesmo tempo que voluntários…varriam as folhas, com uma dedicação cívica insólita para olhos lisboetas.
E mais não se escreve, não vá o editor achar que já é demais para crónica desta viagem de 72h a Kiev que já foi a segunda maior cidade da União Soviética, logo a seguir a Moscovo e à frente de Leninegrado, hoje St. Petersburgo, e que hoje está ainda pendular entre ocidente (EU) e oriente (Rússia)…
Para saber mais da Ucrânia consultar o respectivo (pequeno) Guia Marco Polo e ver na youtube: http://www.youtube.com/watch?v=PqqLNNhhzuU&feature=related